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INVASÃO SEM A 4ª FROTA

O supervisor de planejamento, homem de músculos e barba farta, entrou na sala esbaforido, batendo palmas. Ali, várias pessoas bocejavam, tomavam café ou liam as páginas de esportes dos jornais.

– Minha gente, vamo lá, vamo lá. Vocês acham que o FBI paga este dinheirão pra vocês por quê? Pra coçarem o saco? Vocês são pagos pra planejar. Então planejem. Iniciou-se um burburinho enorme. Como era em inglês, não vou conseguir reproduzir aqui. Mas dava para entender que faltavam motes, objetivos, alvos. O supervisor compreendeu e já tinha até se antecipado às desculpas.

– É o seguinte, gente. O Obama tem umas ideias aí e... bom, eu tenho um resumão aqui. A gente vai trabalhar em parceria com a CIA, tá ok? Então nós temos: como matar o general iraniano Soleimani?; como vamos prender Edward Snowden?; como vamos derrubar o Maduro na Venezuela, e como vamos destruir estas grandes empresas brasileiras, a Petrobrás e a Odebrecht que estão entrando nos nossos nichos e se expandindo pelo mundo. Quem quer planejar o quê?

Os agentes foram levantando as mãos e escolhendo: eu quero isso, eu quero aquilo. Bem no fundo, o mais jovens dos planejadores, perguntou: “Petrobrás, Odebrecht... mas o Obama não é amigo do Lula? Quer uma ação contra o Brasil”? O supervisor abriu os braços como quem não sabia como explicar. Só disse: “Estados Unidos acima de tudo”.

– Quero esta pra mim, então, esta meta brasileira – disse o menino. “Tem certeza?” perguntou o supervisor. “É uma pauta difícil”. O menino respondeu: – Tá na mão. É só jogar com a vaidade de uns e os monstros e medos do povo. E, de lambuja, ainda vem o pré-sal e tiramos a esquerda do poder. Claro que “lambuja”, como é uma palavra bem brasileira, o supervisor sentiu firmeza e intuiu que o menino sabia do que falava. Em poucos meses a estratégia estava bolada. O menino chamou o supervisor e detalhou:

– Eis o plano. É simples: Proponho uma invasão sem a 4ª Frota, sem navios. Primeiro escolhemos alguns promotores e um juiz ávidos por ascensão, glória e dinheiro, estas coisas humanas básicas. Depois cooptamos a mídia amiga e, importante, os políticos amigos. Em seguida apontamos a corrupção endêmica do país, que sempre houve e sempre existirá, mas demonizamos os atores do momento. Os atores sem culpa, acharemos uma para eles. E sempre mandamos falar: comunismo, comunismo, mesmo que não seja. Uma taticazinha do Goebbels, a nosso favor.

O supervisor tava com os "olhão esbugalhado" que nem respirava. – Depois fornecemos toda a expertise de nossas técnicas para descobrir, quebrar códigos, chantagear quem não coopera, criar falsos testemunhos e falsas provas.

O supervisor nem piscava. O novato ia firme: – No meio do caminho vamos acuando e ameaçando quem se opuser ao processo ao mesmo tempo em que um ar de legalidade a tudo permeia. E como cobertura do bolo, fabricaremos um grande apoio popular que além de sustentar tudo, fará dos promotores e do juiz, deuses aos olhos do populacho. E eles nos serão gratos por toda a vida. O supervisor ainda perguntou: "E tu tem esses caras"?

– Traidores da pátria? Se chutar uma moita, saem 50. – E como explicaremos nossa atuação dentro de processos de outro país?, ainda quis saber o supervisor.

– Ora – disse o menino – até que isso chegue a ficar claro, já não há mais governo democrático, nem Petrobrás, nem Odebrecht. Muito menos, pré-sal. E ao fim e ao cabo, vamos explicando tudo, e reexplicando até o fim dos tempos, inventando daqui e dali, no mesmo método das acusações e condenações. Até que um dia quando tudo prescreve. O supervisor esticou os músculos e coçou a barba, pensou um pouco, depois pegou o telefone.

– Chamem os executores! – deitou a cadeira para trás, deu um sorriso e balbuciou satisfeito: temos um projeto!!!



Crônica publicada no Facebook em 05 de julho de 2020.

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