HASHSHASHIN - OS ASSASSINOS
- Pedro Stiehl
- 10 de out. de 2020
- 2 min de leitura
No tempo das cruzadas, havia uma seita árabe chamada Hashshashin, “apreciadores de haxixe” e que se especializou em matar.
Como representavam uma parcela muito pequena da população, não tinham como constituir um exército. Então optaram por matar reis e pessoas importantes das hostes inimigas.
Da palavra Hashshashin deriva a nossa “assassino”. Eram cruéis, invisíveis e seguiam cegamente um líder chamado “Velho da Montanha”. Com seus assassinatos, impérios mudarem de reis e, portanto, de rumos políticos e religiosos daquelas regiões.
Em 1176, Saladino era o grande líder muçulmano contra a invasão cristã no oriente. Por algum motivo, o velho da montanha resolveu matar Saladino. Foram duas tentativas. Ambas falharam, mas na segunda Saladino foi esfaqueado.
Saladino então resolveu dizimar a seita. Organizou um ataque e assediou o castelo onde se refugiavam seus membros. Mas em uma semana desistiu e foi embora.
Reza a História, ou estas lendas que permeiam fatos muito antigos que, depois de segundo ataque, Saladino colocou em sua guarda pessoal somente pessoas de sua extrema confiança, que conhecia a vida inteira e a quem chamava de “meus filhos”.
Então um homem, se dizendo mensageiro do Velho da Montanha, disse que o queria ver. O sultão o recebeu, mas com sua guarda pessoal de máxima confiança presente.
Então o mensageiro dirigiu a palavra, não a Saladino, mas a dois de seus guardas: – Se eu ordenar, em nome de nosso amo e senhor, que vocês matem o sultão agora, vocês o matariam? – Os homens confirmaram: – Ordena-nos o que desejares!
Ante o olhar atônito do monarca, o mensageiro partiu, levando consigo os dois guardas. E Saladino compreendeu que deveria haver paz entre ele o Velho da Montanha. (Extraído do livro “Las Cruzadas”, de Thomas Asbridge).
Lembrei desta historieta vendo o aumento do número de registro de armas no Brasil nos últimos dois anos. Incentivados a resolver suas pendengas no revólver, muitos brasileiros não sentem que o Estado, a Justiça, possa lhe dar a segurança que julga precisar. E onde o Estado não atua, o caos toma conta. Por isso estamos neste avanço em que cada um pode acabar por fazer justiça com as próprias mãos. E, às vezes, por uma banalidade.
A seguirmos neste ritmo, em breve muitos de nós, pessoas comuns e, em tese, pacíficas, podemos nos tornar assassinos. Imagino que seja um peso terrível carregar uma morte na consciência quando não fomos doutrinados para isso. Se aquele “Velho da Montanha” que habita em cada um de nós, naquele lado negro de nossa alma, nos sussurrar “esse cara tá te enchendo o saco, mata, mata, mata” vamos transformar nossa sociedade plural e democrática, numa horda de bárbaros a destruir vidas e famílias, tanto as dos que morrem, quanto as dos que matam.
Como constatou Saladino, de onde menos se espera, do nada, se abrevia um destino se as partes são beligerantes.
A quem interessa uma população armada, uma nação de potenciais matadores? Certamente não à paz. É preciso pacificar o Brasil, e não torná-lo uma zona de guerra.
Crônica publicada no Facebook em 20 de julho de 2020.
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