O tempo é uma flor que nunca para de desabrochar.
Suas pétalas são para sempre um beija-flor da flor do tempo estático em pleno voo bebe o néctar do infinito e deixa pingar o que restou.
No interior do tempo na pouca terra cultivável que me cabe plantei um jardim de vozes com minhas mãos mudas um invento um filho concebido nas travessuras do peito na esperança de desabrochar para sempre.
Em vão!
A árvore dos teus frutos não plantei, nem vi florescer minha boca estava cega do que eu não disse meus pés emudeceram de onde não fui
e porque eu não disse e não fui não houve um mundo.
Só há mundo quando um verbo ecoa numa estrada.
Restou somente o orvalho que verte de tuas folhas verdes onde banho minha língua para que fique de tuas manhãs perfumada.
Não olho para trás para não ver teus passos sobre os meus nem as folhas amarelas que vou perdendo cobrindo de outono os teus.
O tempo, esse grito esmaecido pelo nada entalhado em pedra a quatro mãos pelo futuro e pelo passado é o reflexo sólido de um sonho uma estátua da tua pele
desflorada.
Por isso me olha de longe, o tempo com seus raros olhos azuis seu riacho de rancores e nuvens de palavras enluaradas por onde tu fluis.
As mesmas palavras que desenhei na relva para que fossem bebidas pela chuva e descabeladas pelo vento.
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